sábado, 20 de agosto de 2011

CIDADE GRANDE



As coisas foram acontecendo

Sem que pudesse perceber

O desapego do maior interessado,

Que era eu

Perdi tudo que era meu

De repente o mundo inteiro me esqueceu

O groove e a lenda,

Não, não peço que me entenda 

Mas quero que respeite

O que foi feito com suor

A história foi feita, a rua é minha seita

E isso quer dizer que hoje eu me sinto

Bem melhor

Sem pensar, sem imaginar

No que viria a ser melhor

Cidade grande,

Eu só vi gesticular, mas não, não deu

Pra escutar não

Vidas distantes.

Charlie Brown Jr. Letra: Chapão.

ORAÇÃO


Senhor, eu tenho sede.

No caminhar difícil de minha vida,eu tenho sede.

Nos abandonos, nas perdas, nas incompreensões,eu tenho sede.

Na miséria dos meus pecados,eu tenho sede.

No passado que me atormenta,eu tenho sede.

No futuro que me amedronta,eu tenho sede.

No presente que me entristece,eu tenho sede.

Eu quero água Senhor.

Eu quero água viva.

A água que me lembra o nascimento, o batismo, o mar...

Eu quero água viva que me mostra o mar de possibilidades que eu tenho na vida.

Nada nem ninguém poderá me roubar o futuro.

Eu quero água viva.

Eu quero esse alimento, Senhor.



ROSSI,Marcelo. Ágape.São Paulo: Globo, 2010. 

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

AULA DE LEITURA


A leitura é muito mais

do que decifrar palavras.


Quem quiser para pra ver
pode até se surpreender:
vai ler nas folhas do chão,
se é outono ou se é verão;

nas ondas soltas do mar,
se é hora de navegar;

e no jeito da pessoa,

se trabalha ou se é à-toa;

na cara do lutador,

quando está sentindo dor;

vai ler na casa de alguém
o gosto que o dono tem;

e no pêlo do cachorro,

se é melhor gritar socorro;

e na cinza da fumaça,

o tamanho da desgraça;

e no tom que sopra o vento,

se corre o barco ou vai lento;

e também na cor da fruta,

e no cheiro da comida,
e no ronco do motor,


e nos dentes do cavalo,
e na pele da pessoa,


e no brilho do sorriso,
vai ler nas nuvens do céu,


vai ler na palma da mão,
vai ler até nas estrelas

e no som do coração.

Uma arte que dá medo
é a de ler um olhar,
pois os olhos têm segredos
difíceis de decifrar.


AZEVEDO,Ricardo. Dezenove poemas desengraçados. São Paulo, Ática, 1999.