terça-feira, 22 de setembro de 2009

OUTRAS LINGUAGENS

O diário é uma forma de registro em que a personagem é própria retratada no seu dia a dia.
A autobiografia é um registro das memórias do próprio escritor.

Na pintura, o autorretrato é uma forma de registro em que o modelo é o próprio artista. O retratado se retrata.



Veja alguns autorretratos:





















segunda-feira, 7 de setembro de 2009

RELATOS E MEMÓRIAS

MILTON NASCIMENTO

Milton Nascimento: nasceu no Rio de Janeiro, em 1942 e, aos 10 anos, mudou-se com seus pais adotivos para Minas Gerais. Cantor, compositor e músico de talento mundialmente reconhecido, recebeu vários prêmios internacionais por suas músicas.
No CD Geraes Milton Nascimento traz imagens de Minas Gerais - como na música Fazenda - que evocam sensações e emoções da infância.

FAZENDA

Água de beber, bica no quintal
Sede de viver tudo
E o esquecer era tão normal
Que o tempo parava
E a meninada respirava o vento
Até vir a noite
E os vlhos falavam coisas dessa vida
Eu era criança hoje é você
E no amanhã nós
Água de beber, bica no quintal
Sede de viver tudo
E o esquecer era tão normal
Que o tempo parava
Tinha sabiá, tinha laranjeira
Tinha manga-rosa, tinha o sol da manhã
E na despedida
Tios na varanda
Jipe na estrada
E o coração lá...
Tios na varanda
Jipe na estrada
E o coração lá...


NASCIMENTO, Milton. Fazenda. Geraes.
EMI, Rio de Janeiro: 1976. XEMCB 7020.
Edições Musicais Tapajós Ltda.



CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Carlos Drummond de Andrade: nasceu em 31 de outubro de 1902 em Itabira, MG. Descendente de mineradores, passou a infância numa fazenda em Itabira. Fez seus estudos em Belo Horizonte, cursou Farmácia e foi professor de Geografia. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como jornalista profissional e funcionário público. Lançou sua primeira edição de poesias em 1930: Alguma Poesia. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1987. Suas obras foram publicadas em Portugal, Espanha, Alemanha, Suécia, Estados Unidos.


INFÂNCIA

Meu pai montava o cavalo, ia para o campo.

Minha mãe ficava sentada cosendo.

Meu irmão pequeno dormia

Eu sozinho menino entre mangueiras

lia a história de Robinson Crusoé,

comprida história que não acabava mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu

a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu

chamava para o café.

Café preto que nem a preta velha

café gostoso

café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo

olhando para mim:

-Psiu... Não acorde o menino.

Para o berço onde pousou um mosquito.

E dava um suspiro... que fundo!


Lá longe meu pai campeava

no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história

era mais bonita que a de Robinson Crusoé.




ANDRADE, Carlos Drummond de. Infância.
Alguma poesia. Rio de Janeiro: Record, 2005. p.17.


CÂNDIDO PORTINARI


Cândido Portinari:nasceu em 30 de dezembro de 1903, em Brodósqui, SP, filho de imigrantes italianos. Aos 15 anos foi para o Rio de Janeiro e matriculou-se na Escola Nacional de Belas -Artes.

Em 1928 teve uma obra premiada com uma viagem ao exterior e partiu para Paris. Saudoso de sua pàtria, decidiu voltar em 1931 e retratar em suas telas o povo brasileiro. Foi um dos principais representantes das novas tendências artísticas do país. Seus trabalhos estão espalhados pelo mundo todo. O pinel Guerra e Paz, na sede da ONU, em Nova York, é um exemplo.

Em 1954, iniciaram-se os primeiros sintomas de intoxicação das tintas que lhe causaria a

morte em 6 de fevereiro de 1962.


UM PINTOR QUE ESCREVE

.........................................................

Não tínhamos nenhum brinquedo

Comprado. Fabricamos

Nossos papagaios, piões,

Diabolô.

À noite de mãos livres e

pés ligeiros era pique,

barra-manteiga, cruzado.

Certas noites de céu estrelado

E a lua, ficávamos deitados na

Grama da igreja de olhos presos

Por fios luminosos vindos do céu

Era jogo de encantamento.

No silêncio podíamos

preceber o menor ruído

Hora do deslocamento dos

Pequenos lumes... Onde andam

Aqueles meninos, e aquele

Céu luminoso e de festa?

Os medos desapareciam

Sem nada dizer nos recolhíamos

Tranquilos...

....................................................

Poucos são aqueles a quem falo

E muitos me procuram por nada

Se tivesse continuado a soltar papagaio

Seria livre como as andorinhas

Não entenderia os homens

Teria pena deles e de mim

Saberia a vida do vento

E a época dos vaga-lumes

Com as suas lanterninhas.

Saberia as idades

Das nuvens e os dias de arco-íris.

PORTINARI. Poemas.Projeto Portinari, 1999, p. 29-69.



TARSILA DO AMARAL


Tarcila do Amaral: nasceu em 1º de setembro de 1886, na Fazenda São Bernado, no município de Capivari, interior de São Paulo, e passou a infância e a adolescência em fazendas. Pintou seu primeiro quadro, Sagrado Coração de Jesus, aos 16 anos.

Em 1920, foi estudar pintura na Europa e, na volta ao Brasil, juntou-se ao Grupo Modernista, que havia realizado a Semana de Arte Moderna de 1922: entre outros, os pintores Anita Malfatti e Di Cavalcanti e os escritores Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti del Picchia. Seu quadro Abapuru, pintado em 1928, é um dos marcos do Modernismo brasileiro. Tarsila morreu em São Paulo, em janeiro de 1973.




















quarta-feira, 2 de setembro de 2009

LINGUAGEM, LÍNGUA E FALA



LINGUAGEM é o processo de interação comunicativa que se constitui pela construção de sentidos. Ou seja, é qualquer sistema de sinais, símbolos e recursos que o ser humano utiliza para comunicar-se, isto é, para transmitir suas idéias e seus sentimentos.



LINGUAGEM VERBAL- é a mais usada. Ela se serve de palavras escritas ou faladas para realizar a comunicação. Porém, a linguagem verbal não é a mesma para todos os seres humanos. Cada povo tem seu próprio sistema vocabular e gramatical.



LINGUAGEM NÃO- VERBAL- é a que empregamos outros sinais(não a palavra) para que aconteça a comunicação. São os sinais de trânsito, a linguagem gestual (gestos, expressões faciais), a linguagem dos surdos, mudos, a pintura, a música, os ícones dos computadores, etc.



LINGUAGENS MISTAS – são aquelas que combinam unidades próprias de diferentes linguagens. Por exemplo: numa história em quadrinhos há uma combinação (imagem, palavras) no teatro (palavras, gestos, cenários, trajes, luzes e máscaras) no cinema (fotogramas, palavras, músicas, cenários, movimentos).



LÍNGUA – é o código verbal pertencente a determinado grupo de indivíduos, como franceses, japoneses, etc. Ou seja, língua é a linguagem verbal utilizada por um povo ou por um grupo menor, como no caso de tribos ou de comunidades que falam dialetos. A LÍNGUA é uma instituição social, produzida pela coletividade e para a coletividade. 


FALA- é a linguagem verbal própria de cada indivíduo.


ESTILO – é a maneira própria de cada um falar ou escrever. É aquela marca que distingue um escritor de outro, pelo que ele tem de especial no modo de se expressar.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

LINGUAGEM POÉTICA

Podemos ler textos de diferentes tipos e variados gêneros: crônica, conto, fábula, diário, biografia, relatos, história em quadrinhos, receita, bilhete, carta, entre tantos outros. 
Há textos que apresentam fatos reais, vivenciados, e outros que apresentam fatos imaginários, fruto da criação do autor: os textos de ficção.
Se a narrativa em prosa leva a imaginar personagens e aventuras, há outro tipo  de texto - os poemas - escritos em versos, que, além de aguçar a imaginação, atua sobre a sensibilidade, trazendo surpresas e jogos de significados.
A linguagem poética sempre esteve ligada à música. Cada poema constitui um arranjo de palavras que produz múltiplos sentidos a cada leitura.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O BICHO



Vi ontem um bicho
Na imundíce do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.


(BANDEIRA, Manuel. Rio de Janeiro, 1994.)

TRADUZIR - SE



Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
que é questão
de vida ou morte
será arte?




GULLAR, Ferreira. Traduzir-se. Os melhores poemas de Ferreira Gullar. 
sel. e apres. Alfredo Bosi. São Paulo: Global, 2000. p. 1445.

CIDADEZINHA QUALQUER



Casas entre bananeirs
mulheres entre laranjeras
pomar, amor, cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.

Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus!


ANDRADE, Carlos Drummond de.

VASO DE FLORES



Uma flor no vaso
Olha o dia inteiro
Da sua janela
Para o canteiro.

Todas as amigas
Vivem no jardim,
Só ela no vaso,
Solitária assim.


(BIALIK, Hayim Nachaman. Vaso de flores. Di-versos hebraicos.
Trad. Tatiana Belink e mira Perlov. São Paulo: Scipione, 19991.)