Na tela CAFÉ, de 1934, Portinari demonstra a preocupação com questões de cunho sociais no país.
(Tela CAFÉ de 1934, Candido Portinari)
"Os acontecimentos que marcam a história da vida de alguém podem ser contados de diversas formas. O CORDEL a seguir utiliza os versos para divulgar um pouco a vida e a obra do gênio brasileiro, o pintor Candido Portinari, que representou muito bem em suas telas e murais o povo, cenas do dia a dia, paisagens, a realidade, enfim o nosso Brasil"
CANDIDO PORTINARI
No interior de São Paulo
Brodósqui foi a cidade
No dia trinta de dezembro
Com muita felicidade
Mil novecentos e três
De nascer chegou a vez
Duma grande sumidade.
Filhos de italianos
Gente humilde imigrante
Portinari veio ao mundo
Pra mudar o semblante
Nasceu pobre na fazenda
Para depois virar lenda
Artista tão importante.
Na plantação de café
Onde seu pai trabalhava
Estudou só o primário,
Mas outro poder saltava
a sua vocação de artista
Pra todos dava na vista,
Pois já se manifestava.
Aos quinze anos de idade
Foi pro Rio de Janeiro
Buscar o conhecimento
Do puro e verdadeiro
Entra fazendo apartes
Na escola de belas-artes
Pra logo ser o primeiro.
Foi no ano de vinte e oito
O primeiro prêmio ganhou
Na exposição geral
Que belas artes criou
Pro estrangeiro viajar
e em Paris foi morar
E um ano por lá ficou.
Com saudades do Brasil
Em trinta e um retornou
Suas telas retratam o povo
Do Brasil com seu valor,
Esquece o academismo
Pelo experimentalismo
No modernismo adentrou.
No instituto Carnegi
Lá nos Estados Unidos
No ano de trinta e cinco
Foi um dos escolhidos
Recebeu menção honrosa
Pela tela primorosa
"Café, grãos sendo colhidos.
[...]
Gostava de fazer murais
Tinha essa inclinação
No ano de trinta e seis
Fez dois com dedicação
Pra via Dutra inaugurada
E ao ministério dedicada
Da saúde e educação.
Dessa data em diante
Sua concepção mudou
Para uma nova temática
Portinari se voltou
Na pintura informal
Foi pro cunho social
O seu fio condutor.
Companheiro de poeta,
Escritores e artista
Muita gente de cultura
Diplomata e jornalista
No final dos anos trinta
Já na projeção sucinta
Na América tá na crista.
No ano de trinta e nove
Executa três painéis
Para a feira mundial
Ganhando uma nota dez
A América viu seu toque
E o museu de Nova York
Ficou rendido aos seus pés.
Teve sucesso de venda
E um público majestoso
Em dezembro desse ano
Teve um ganho pomposo
Um livro sobre o pintor
Sua arte e seu louvor
Foi tudo maravilhoso.
Reproduzidas no livro
A sua obra rica e bela
Cada uma mais perfeita
Empáfia verde amarela
Foi orgulhoso pro Brasil
Quando esse livro saiu
Sobre o pintor e sua tela.
[...]
Daniel Fiúza Pequeno.
Um gênio da Arte: Candido Portinari -
1ª e 2ª partes.
PORTINARI POR ELE MESMO
"Impressionavam-me os pés dos trabalhadores das fazendas de café. Pés disformes. pés que podem contar uma história. Confundiam-se com as pedras e os espinhos.
Pés semelhantes aos mapas: com montes e vales, vincos como rios. Quantas vezes, nas festas e bailes, no terreiro, que era oitenta centímetros mais alto do que o chão, os pés ficavam expostos e era divertimento de muitos apagar a brasa do cigarro nas brechas dos calcanhares sem que a pessoa sentisse. Pés sofridos com muitos e muitos quilômetros de marcha. Pés que só os santos têm. Sobre a terra, difícil era distingui-los. Os pés e a terra tinham a mesma moldagem variada. Raros tinham dez dedos, pelo menos dez unhas. Pés que inspiravam piedade e respeito. Agarrados ao solo, eram como os alicerces, muitas vezes suportavam apenas um corpo franzino e doente. Pés cheios de nós que expressavam alguma coisa de força, terríveis e pacientes."
O Brasil de Portinari - Exposição de réplicas.