Se disser que prefiro morar em Pirapemas
ou em outra qualquer pequena cidade
do país
estou mentindo
ainda que lá se possa de manhã
lavar o rosto no orvalho
e o pão preserve aquele branco
sabor de alvorada
Não não quero viver em Pirapemas
Já me perdi
Como tantos outros brasileiros
me perdi, necessito
deste rebuliço de gente pelas ruas
e meu coração queima gasolina
(da comum)
como qualquer outro motor urbano
A natureza me assusta.
Com seus matos sombrios suas águas
suas aves que são como aparições
me assusta quase tanto quanto
esse abismo
de gases e de estrelas
aberto sob minha cabeça.
GULLAR, Ferreira. Toda poesia (1950-1987).
Rio de Janeiro: José Olympio, 19991.
FERREIRA GULLAR nasceu em São Luiz, Maranhão. Muito jovem já escrevia, aos 19 anos foi premiado em um concurso de poesia e não parou mais. Em 2002, foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura. Recebeu o Prêmio Claus, na Holanda, prêmio dado a instituições culturais, artistas e escritores não europeus que contribuíram para mudar a sociedade, a arte ou a visão cultural de seu país. Atualmente o poeta concilia seu tempo entre poemas, análises e reflexões sobre artes plásticas.
E é dessa maneira que ele define sua arte e o seu fazer poético: "É o lugar onde a linguagem comum vira poesia [...] e a poesia é o lugar onde as coisas se transformam".
Fonte de pesquisa:
www.secrel.com.br/jpoesia/
gular01.html-63k
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