domingo, 19 de agosto de 2012

PARAÍSO


Se essa rua fosse minha,
eu mandava ladrilhar,
não para automóvel matar gente,
mas para crianças brincar.

Se esta mata fosse minha,
eu não deixava derrubar.
Se cortarem todas as árvores,
onde é que os pássaros vão morar?

Se este rio fosse meu,
eu não deixava poluir.
Jogue esgotos noutra parte,
que os peixes moram aqui.

Se este mundo fosse meu,
eu fazia tantas mudanças
que ele seria um paraíso
de bichos, plantas e crianças.


(PAES, José Paulo. in: Vera Aguiar, coord. Poesia fora da estante. Porto Alegre: Projeto, 1995. p.113)

RODA NA RUA


Roda na rua
a roda do carro

Roda na rua 
a roda das danças

A roda na rua
rodava no barro

Na roda da rua
rodavam crianças.

O carro, na rua.


(Cecília Meireles, Poesia completa. Rio de Janeiro: Aguilar.)

sábado, 18 de agosto de 2012

A VOZ DO POETA


Não é voz de passarinho
flauta do mato 
viola

Não é voz de violão 
clarinete pianola

É voz de gente
(na varanda? na janela?
na saudade? na prisão?)

É voz de gente - poema:
fogo logro solidão

(Ferreira Gullar)