segunda-feira, 7 de setembro de 2009

RELATOS E MEMÓRIAS

MILTON NASCIMENTO

Milton Nascimento: nasceu no Rio de Janeiro, em 1942 e, aos 10 anos, mudou-se com seus pais adotivos para Minas Gerais. Cantor, compositor e músico de talento mundialmente reconhecido, recebeu vários prêmios internacionais por suas músicas.
No CD Geraes Milton Nascimento traz imagens de Minas Gerais - como na música Fazenda - que evocam sensações e emoções da infância.

FAZENDA

Água de beber, bica no quintal
Sede de viver tudo
E o esquecer era tão normal
Que o tempo parava
E a meninada respirava o vento
Até vir a noite
E os vlhos falavam coisas dessa vida
Eu era criança hoje é você
E no amanhã nós
Água de beber, bica no quintal
Sede de viver tudo
E o esquecer era tão normal
Que o tempo parava
Tinha sabiá, tinha laranjeira
Tinha manga-rosa, tinha o sol da manhã
E na despedida
Tios na varanda
Jipe na estrada
E o coração lá...
Tios na varanda
Jipe na estrada
E o coração lá...


NASCIMENTO, Milton. Fazenda. Geraes.
EMI, Rio de Janeiro: 1976. XEMCB 7020.
Edições Musicais Tapajós Ltda.



CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Carlos Drummond de Andrade: nasceu em 31 de outubro de 1902 em Itabira, MG. Descendente de mineradores, passou a infância numa fazenda em Itabira. Fez seus estudos em Belo Horizonte, cursou Farmácia e foi professor de Geografia. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como jornalista profissional e funcionário público. Lançou sua primeira edição de poesias em 1930: Alguma Poesia. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1987. Suas obras foram publicadas em Portugal, Espanha, Alemanha, Suécia, Estados Unidos.


INFÂNCIA

Meu pai montava o cavalo, ia para o campo.

Minha mãe ficava sentada cosendo.

Meu irmão pequeno dormia

Eu sozinho menino entre mangueiras

lia a história de Robinson Crusoé,

comprida história que não acabava mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu

a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu

chamava para o café.

Café preto que nem a preta velha

café gostoso

café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo

olhando para mim:

-Psiu... Não acorde o menino.

Para o berço onde pousou um mosquito.

E dava um suspiro... que fundo!


Lá longe meu pai campeava

no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história

era mais bonita que a de Robinson Crusoé.




ANDRADE, Carlos Drummond de. Infância.
Alguma poesia. Rio de Janeiro: Record, 2005. p.17.


CÂNDIDO PORTINARI


Cândido Portinari:nasceu em 30 de dezembro de 1903, em Brodósqui, SP, filho de imigrantes italianos. Aos 15 anos foi para o Rio de Janeiro e matriculou-se na Escola Nacional de Belas -Artes.

Em 1928 teve uma obra premiada com uma viagem ao exterior e partiu para Paris. Saudoso de sua pàtria, decidiu voltar em 1931 e retratar em suas telas o povo brasileiro. Foi um dos principais representantes das novas tendências artísticas do país. Seus trabalhos estão espalhados pelo mundo todo. O pinel Guerra e Paz, na sede da ONU, em Nova York, é um exemplo.

Em 1954, iniciaram-se os primeiros sintomas de intoxicação das tintas que lhe causaria a

morte em 6 de fevereiro de 1962.


UM PINTOR QUE ESCREVE

.........................................................

Não tínhamos nenhum brinquedo

Comprado. Fabricamos

Nossos papagaios, piões,

Diabolô.

À noite de mãos livres e

pés ligeiros era pique,

barra-manteiga, cruzado.

Certas noites de céu estrelado

E a lua, ficávamos deitados na

Grama da igreja de olhos presos

Por fios luminosos vindos do céu

Era jogo de encantamento.

No silêncio podíamos

preceber o menor ruído

Hora do deslocamento dos

Pequenos lumes... Onde andam

Aqueles meninos, e aquele

Céu luminoso e de festa?

Os medos desapareciam

Sem nada dizer nos recolhíamos

Tranquilos...

....................................................

Poucos são aqueles a quem falo

E muitos me procuram por nada

Se tivesse continuado a soltar papagaio

Seria livre como as andorinhas

Não entenderia os homens

Teria pena deles e de mim

Saberia a vida do vento

E a época dos vaga-lumes

Com as suas lanterninhas.

Saberia as idades

Das nuvens e os dias de arco-íris.

PORTINARI. Poemas.Projeto Portinari, 1999, p. 29-69.



TARSILA DO AMARAL


Tarcila do Amaral: nasceu em 1º de setembro de 1886, na Fazenda São Bernado, no município de Capivari, interior de São Paulo, e passou a infância e a adolescência em fazendas. Pintou seu primeiro quadro, Sagrado Coração de Jesus, aos 16 anos.

Em 1920, foi estudar pintura na Europa e, na volta ao Brasil, juntou-se ao Grupo Modernista, que havia realizado a Semana de Arte Moderna de 1922: entre outros, os pintores Anita Malfatti e Di Cavalcanti e os escritores Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti del Picchia. Seu quadro Abapuru, pintado em 1928, é um dos marcos do Modernismo brasileiro. Tarsila morreu em São Paulo, em janeiro de 1973.




















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