Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
que é questão
de vida ou morte
será arte?
GULLAR, Ferreira. Traduzir-se. Os melhores poemas de Ferreira Gullar.
sel. e apres. Alfredo Bosi. São Paulo: Global, 2000. p. 1445.
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