quarta-feira, 23 de maio de 2012

AONDE?


Ando a chamar por ti, demente, alucinada,
Aonde estás, amor? Aonde ... aonde ... aonde...?...
O eco ao pé de mim segreda ... desgraçada...
E só a voz do eco, iônica, responde!


Estendo os braços meus! Chamo por ti ainda!
O vento, ao meus ouvidos, soluça a murmurar;
Parece a tua voz, a tua voz tão linda
Cantante como um rio banhado de luar!


Eu grito a minha dor a minha dor intensa!
Esta saudade enorme, esta saudade imensa!
E só a voz do eco à minha voz responde...


Em gritos, a chorar, soluço o nome teu
E grito ao mar, à terra, ao puro azul do céu:
Aonde estás, amor? Aonde ... aonde... aonde...? ...


Florbela Espanca. Poemas de Florbela Espanca. 
Marai Lúcia Dal Farra (org.) São Paulo: Martins Fontes, 1996.




Florbela de Alma da Conceição Espanca (1884-1930) nasceu em Vila Viçosa, no Alto Alentejo, Portugal. Ignorada pelo público leitor e pela crítica, sua poesia só foi reconhecida após sua morte precoce. Considerada como a grande figura feminina das primeiras décadas da literatura portuguesa do século XX, imprime a seus versos de imagens fortes toda a angústia, a tristeza, a solidão, o desencanto, aliados a uma imensa ternura e a um desejo de felicidade e plenitude.

www.vidaslusofonas.pt/florbela




O olhar amoroso de um poeta anuncia o que, em geral, passa despercebido aos olhos dos homens comuns. O poema que você leu acima (AONDE?) é um soneto que aborda o tema AMOR. Fala do amor de maneira intensa e livre do rigor da época em que  a poetisa viveu.


SONETO é uma forma poética constituída por catorze versos. Compõe-se de quatro estrofes (duas quadras e dois tercetos).





Nenhum comentário:

Postar um comentário