quarta-feira, 23 de maio de 2012

ONDE ESTÁS?


É meia-noite... e rugindo
Passa triste a ventania,
Como um verbo de desgraça,
Como um grito de agonia.
E eu digo ao vento, que passa
Por meus cabelos fugaz:
"Vento frio do deserto,
Onde ela está? Longe ou perto?"
Mas, como um hálito incerto,
Reponde-me o eco ao longe:
"Oh! minha'amante, onde estás?"


Vem! É tarde! Por que tardas?
São horas de brando sono,
Vem reclinar-te em meu peito
Com tem lânguido abandono!...
'Stá vazio nosso leito...
'Stá vazio o mundo inteiro;
E tu não queres qu'eu fique
Solitário nesta vida...
Mas por que tardas, querida?...
Já venho esperando assaz...
Vem depressa, que eu deliro
Oh! minh' amante, onde estás?...


Estrela - na tempestade,
Rosa - nos ermos da vida;
Íris - do náufrago errante,
Ilusão - d'alma descrita!
Tu foste, ó filha do céu!...
...E hoje que o meu passado
Para sempre morto jaz...
Vendo finda a minha sorte,
Pergunto aos ventos do Norte...
"Oh minh' amante, onde estás?...


Castro Alves. Espumas flutuantes. Rio de Janeiro: Record, 1998.


O poeta CASTRO ALVES (1847-1871) nasceu na Bahia, passou sua infância no sertão e, aos dezesseis anos, foi estudar em Recife. Seus poemas tratam do amor e de problemas sociais do seu tempo, tendo abordado, com rara indignação e eloquência, o sofrimento dos escravos.
Em sua breve vida, foi inspirado por muitas musas, sendo a mais célebre a  atriz portuguesa Eugênia Câmara, a quem dedicou muitos poemas de amor.

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