A menina quer brincar com a estátua de fonte,
que é uma criança nua, em cuja cabeça
os passarinhos pousam, depois do banho,
antes de voarem para longe.
A menina com muita precaução,
toca o braço da estátua,
e fala com ela essas coisas com outro sentido
que as crianças dizem umas às outras,
ou aos objetos com que conversam,
Ou a si mesmas, quando estão sozinhas.
A menina insiste com a estátua,
convida-a a descer do plinto,
passa o dedo pelos seus pés de bronze,
examinando-os e persuadindo-a.
E diante de tal silêncio;
fica séria e preocupada,
mira a estátua de perto,
como a um pequeno deus misterioso,
caminha de costas, mirando-a
e fica de longe a mirá-la,
por um momento prolongado e respeitoso.
(Cecília Meireles."A menina e a estátua". Mar absoluto e outros poemas:
Retrato natural. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova fronteira,1983.)
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